De
todos que conheço, poucos recebem o meu carinho no abraço, no beijo ou nas
palavras. Tanto, que até diriam que não faço o gênero carinhosa. É verdade. Meu
carinho é para poucos. Selecionados. Mas quando ele existe, é imenso... diria
até desmedido. Não sei o porquê desse desequilíbrio, apenas sei da inconteste
existência.
A
vida de quem é carinhoso ao extremo não é nada fácil. Poderia ser, o problema é
que apenas algumas criaturas escolhidas a dedo por Deus conseguem ter esse
desprendimento, colocar em prática essa política do “fazer sem esperar
retorno”. Eu não consigo, de verdade. Eu dou carinho e espero-o de volta. Não
tê-lo me machuca fisicamente. Me dá vontade de colocá-lo dentro de mim de novo,
não tirá-lo dos meus braços, da minha boca. Meu carinho é tão raro que, se quem
o recebesse assim o visse, daria um valor acima da normalidade. Mas evidente
que onde há abundância, muito raro se olha para o lado para notar a escassez.
E é
assim. A luta diária pelo dar sem esperar receber nada em retorno. A vida do
carinhoso tímido é deveras mais difícil que a do efusivo. Dá vontade toda hora
de adotar uma postura 100% prática, antirromântica ou, até mesmo, “normal”. O
problema maior, no entanto, está no amor que sinto por quem recebe o carinho –
é, infelizmente, também desmedido.