
Faltam algumas horas pra eu embarcar. A viagem vai ser longa. De Manaus pra São Paulo; São Paulo pra Toronto; Toronto pra Montréal... onde tudo é em francês, da língua até a cultura em seus mínimos detalhes.
It's a shitty life, after all.
Cansada. Tô vendendo a minha alma a preço de qualquer-coisa-sem-valor, em troca na verdade eu não quero dinheiro. Só quero paz de espírito.
Não tenho dúvidas que oficialmente minha vida virou um inferno. E não se trata do inferno astral, que dura cerca de um mês antes do seu aniversário e depois acaba quando finalmente esse dia chega.
O meu inferno parece durar muito mais.
Nem Dante saberia descrever com perfeição a inquietação de espírito que estou vivendo. Sinto que o mundo não foi nem um pouco justo comigo. Ninguém. Nem ele, nem minha mãe, nem minhas amigas, nem meu coração. Não consigo ver saída pra nada e nem mesmo estar escrevendo, o que me ajuda a organizar os pensamentos, está servindo.
Será que eu fiz tão má escolha assim?
Acredito que o pressuposto maior da vida seja o aprendizado. Se não tenho a liberdade de minhas escolhas, provavelmente nunca enfrentarei os entraves necessários para adquirir maturidade, sabedoria e mais outras qualidades interentes à vida adulta (oi, estou velha).
Cercear é um papel para poucos, diria quase que exclusivo dos pais em relação a filhos pequenos, talvez irresponsáveis, talvez sem senso algum.
E eu me pergunto em qual categoria me encaixo, se do subversivo provei tão pouco ou quase nada. Pergunto-me qual preço tenho de pagar, a quantia que devo devolver a quem se acha no direito de opinar, a partir do momento que atendi a todas as expectativas de quem queria ver algo de bom em mim. Deve ser, no entanto, um tanto dificultoso enxergar-me além.
Se eu tivesse três pedidos pra fazer nesse meu aniversário, eu os listaria:
1. Adiar o dia 6 de novembro em duas semanas, aproximadamente;
2. Colocar um chip na cabeça da minha mãe;
3. Não ter de trabalhar até de madrugada no dia que, em tese, deveria ser meu.
I feel like giving up.